1 de março de 2014

A Dádiva da Escuridão [Presas] - Marco de Moraes



    Mais uma resenha para vocês! E dessa vez vamos falar sobre um livro que, confesso, me surpreendeu bastante (adoro quando sou surpreendida por novas leituras ^^) e que me fez mergulhar de cabeça num mundo sombrio, terrificante e poético.

    Acho que quem leu meu último post de parceria talvez esteja adivinhado que o livro sobre o qual estou falando é A Dádiva da Escuridão, primeiro exemplar da saga Presas, do nosso autor parceiro Marco de Moraes. Claro que está escrito no título o nome do livro e do parceiro, mas eu gosto de fazer mistério mesmo assim.

    Antes de arremessá-los nesse mundo sem volta, vamos, primeiro, ler algumas informações sobre o livro:

"Estas são as lembranças de um andarilho que teve de recomeçar sua jornada quando se vê em um sombrio e nebuloso pântano, rodeado de cadáveres humanos. Perdido e amedrontado por não lembrar-se sequer do próprio nome, percorre florestas e estradas em busca de sobrevivência e acaba entrando em contato com o povo de um humilde condado. Além de percorrer suas vagas recordações e tentar entender a magia que o atrai tanto àquele lugar, ele ainda deverá enfrentar os filhos da noite, as sanguinárias criaturas que insistem em persegui-lo.
Neste cenário perturbador e atraente, as horas parecem dias, criando uma mistura de pesadelo e realidade; e os limites entre luz e escuridão se perdem a cada dia em meio a névoa, fazendo com que essas criaturas dominem e perdurem na escuridão."

Editora: Novo Conceito [Novos Talentos]
Ano: 2013

A sinopse já deixa bem claro que o clima em "A Dádiva da Escuridão" é sombrio, que é repleto de névoa e um mundo lotado de criaturas noturnas sanguinárias. Na verdade, ele consegue ser muito mais sombrio do que aparenta, e logo de cara, somos forçados a enxergar o mundo feudal de Marco através do ponto de vista de um homem, o protagonista, desmemoriado.


    Acredito que esta saga possua alguns diferenciais, mas este livro, especificamente possui muitos pontos positivos que me agradaram e muito! O primeiro, com toda a certeza, foi a capa.

    Não sei se vocês repararam, mas a capa me lembrou MUITO da capa de A Menina que Roubava Livros, do Markus Zusak, com a árvore e tal, e eu me apaixonei logo de cara por ela (tanto por "Menina" quanto por "Dádiva"), porque eu adorei esse design com a árvore negra e tudo mais (por mais que a árvore do livro de Zusak esteja bem mais pra trás, aparecendo totalmente...). De qualquer forma, a capa de "A Dádiva da Escuridão" é linda e sombria, e me fez entrar totalmente no clima da história.

    Aliás, o nome da saga ficou muito bom assim, grande e maior do que o nome do Marco e do primeiro livro. Eu, particularmente, achei muito interessante.

    Penso que o segundo ponto a favor do livro tenham sido os mapas. Há três mapas no final do livro, de três diferentes condados (lembrando que a história se passa mais ou menos na época feudal, na Idade Média), e ilustrando totalmente o que é descrito no livro. Isso me agrada muito, porque normalmente os autores escrevem, por exemplo, o caminho para um castelo ou para uma vila, mas nem sempre todos os leitores terão uma noção muito boa de espaço ou conseguirão formar a imagem da estrada em suas mentes. Os mapas auxiliam nisso, e, confesso, desde que li Deltora Quest e As Crônicas de Gelo e Fogo fiquei mal-acostumada com mapas.

(Este é o mapa de um dos condados. O primeiro que aparece no final do livro)

    De qualquer forma, além dos mapas, da linda capa e de "Presas" aparecendo em destaque, eu posso afirmar com toda a certeza, que um dos principais motivos para que A Dádiva da Escuridão tenha chamado minha atenção - e consequetemente, a sua - é a escrita fabulosa de Marco.

    E, com licença, mas ela merece destaque.

    Marco, diferentemente da maioria dos autores que esbarramos por aí, não escreve "diretamente". Acho que todos se lembram do post sobre a parceria com ele, no qual eu comento sobre a escrita observadora e poética do autor e sobre como ele é capaz de nos colocar em diferentes situações com suas frases encantadoras. Pois bem, eu não estava mentindo (até porque, eu nunca mentiria sobre algo. Sempre falo imparcialmente sobre o que achei da leitura!), e a escrita de Marco realmente tem um sabor muito diferente da escrita da maioria dos autores.

    Ele consegue escrever tudo de um jeito muito, muito poético, mas não cansativo!, e que deixa a história totalmente submersa no clima sombrio e medieval. Isso é muito especial, porque nem sempre lemos uma história passada na época medieval e que transmite essa mesma sensação, e acredito que um dos motivos para nos fazer sentir assim, é que Marco criou falas e pensamentos coerentes com a época, escritos na linguagem formal e antiga. Como vemos, nessa frase: (obs.: não tem spoiler!)

"- Como? Digo, seria blasfêmia a me esbaldar com o sagrado sangue do Senhor! Na igreja tenho vinho para as missas dominicais... mas pouco te interessa, porque se entrasses na casa de Deus, tua carne queimaria e serias julgado por Ele! Por que falas comigo ainda, renegado do Senhor?! Afasta-te de mim!
[...]

-Tu és astuto  com tua língua afiada de cobra! Tu só sabes cuspir o veneno que pode corromper qualquer um! Afasta-te!"

    E a linguagem é medieval durante toda a leitura, nos fazendo esquecer que estamos no século vinte e um, em 2014, mas nos arremessando totalmente para esta época medieval!

    Aliás, uma outra técnica incrível e maravilhosa que há durante a narrativa é a poesia e alguns versos que Marco coloca. Se lerem com atenção, perceberão que em certas frases há rimas e em alguns pontos surgem certos versos que nos prendem à época medieval e não nos deixa mais sair dela. Isso é incrível, porque eu tento imaginar os versos escritos em falas, mas não consigo de jeito algum e acredito que o livro e a história só seriam perfeitos do jeito que praticamente são, por conta destes "detalhes":

"Quando chegou mais perto, vi seu rosto sem forma e seu grande remo de prata que era, na verdade, uma foice. Saquei da espada, apontado para aquilo. Eu estava imóvel e sem saber como agir; ergui a espada sem querer atacar. Perguntei uma vez mais:

-Quem é?

A barcaça parou à orla do pântano. Ouvi uma voz:

-Tu me vês porque as coisas são.
Não desvias teu olhar rendido à tentação.
Apresentamo-nos sem cumprimento, sem afago
Sou quem te levará lá do lago.

-Pelo que aparenta, é um servo do diabo!

-Eu conduzo para onde não há abrigo.
Apenas corto e carrego o trigo.
Todos me conhecem,
até o que se esquecem.
Se sentes minha presença.
Então, não temes a tua sentença."

    E das duas vezes em que li esta parte (e as outras com versos) eu só consegui ficar encantada. Por favor, você que acabou de ler esta parte, não ficou incrível?! Não ficou esplêndido o modo como ele criou toda a situação e a poesia, e misturou todo o seu talento para criar cenários sobrenaturais com a poética e nos submergiu numa situação destas? Ficou maravilhoso! (Obs.: Marco, você escreve muito!)


    Misturando a poesia com a incrível escrita de Marco, nós temos uma história brilhante, com um enredo magnífico e personagens muito atraentes! Estes são os outros dois motivos para deixarem todos com os olhos vidrados nas páginas: personagens bem criados, modelados e que não são nem um pouco clichês e também um enredo de encantar qualquer um.

    Durante a história, acabei chegando à conclusão de que Marco possui um leque grande de personagens, porque ele não se importa em matar quem for preciso matar (mesmo que ele seja "importante" ou que tenha "destaque", por exemplo). O que deixa a história muito mais 'real', afinal de contas, isto se passa num condado medieval, e as mortes ocorriam a rodo. Os personagens são descartados conforme a lógica da história se movimenta, e isso também me deixou muito satisfeita, porque algumas vezes a história pede para certo personagem morrer, mas o autor simplesmente se RECUSA a matá-lo! E acaba deixando a história meio ridicula/monótona/clichê.

    Este livro possui uma história fantástica, como eu já disse algumas vezes e não me canso de repetir, e vale muito à pena ser lido e relido. O enredo é muito especial, não somente pela escrita de Marco, pelos versos, pelos personagens bem montados e pela lógica, mas também porque foi muito bem montado, é uma história criada com cuidado e preparada atenciosamente pelo autor. Um daqueles enredos que demora para apresentar um único erro (até agora, não achei nenhum. E, acreditem, eu procuro HAHAHA), e que possui reviravoltas e descobertas muito interessantes e surpreendentes! (o que dizer do final do livro? Estou comendo meus dedos, esperando pelo segundo!! E olha que é difícil um livro me deixar ansiosa assim, poucas sagas conseguiram - e aqui eu incluo As Crônicas de Gelo e Fogo, Harry Potter e a eterna 'trilogia' Millennium).

    As explicações para cada fato, os fatos, os personagens, tudo foi muito bem moldado e lacrado nesta escrita fantástica. Não tem como não ler A Dádiva da Escuridão e não amar a história e nem ignorar a existência do segundo livro (e nem deixar de se surpreender com revelações finais, e com o próprio final). Até agora estou me perguntando como será a continuação da saga, porque eu tenho MUITAS dúvidas e perguntas (e só uma saga até hoje me deixou assim: Jogos Vorazes).


    Esse livro me salvou de uma fossa literária que eu estava, ligada ao "ser" tema dele (quem ler, vai saber), porque uma série aí me deixou muito extremamente decepcionada com certos seres e eu acreditei que somente um livro poderia me salvar. Mas, veio Dádiva, e cá estou eu amando novamente esses monstros <3

    Eu realmente espero que vocês leiam, que comprem o livro porque ele vale MUITO à pena ser comprado e lido, e que anseiem pelo segundo exemplar da saga Presas. Porque é muito difícil, de verdade, encontrar um livro assim com uma escrita tão boa, com um mundo tão bem moldado, com falas coerentes... Enfim, é difícil encontrar um diamante desse no meio de tanto grafite.

    De qualquer forma, caso queiram saber mais sobre o livro, basta acessar os links do facebook, da página do livro, do booktrailer, ou os de compras da Travessa e da Saraiva!

    Até mais,

    Ana :D

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